Palocci diz que filho de Lula recebeu propina de montadoras
Jornalista Gazeta
O ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci
disse hoje (6), em depoimento à Justiça Federal no Distrito Federal, que o
filho do ex-presidente Lula, Luiz Cláudio, recebeu recursos de um lobista
envolvido na elaboração da Medida Provisória 471/2009, objeto de ação penal no
âmbito da Operação Zelotes. As informações são da Agência Brasil.
Segundo Palocci, o filho de Lula o teria procurado em sua
consultoria, em São Paulo, entre o final de 2013 e o início de 2014, para que o
ajudasse a obter de empresas ao menos R$ 2 milhões para viabilizar um de seus
empreendimentos. Mas o próprio Lula, segundo o ex-ministro, teria lhe informado
já ter obtido o dinheiro com o lobista Mauro Marcondes.
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal (MPF),
Marcondes atuou junto ao governo Lula em prol da elaboração da MP 471, na qual
foram concedidos benefícios fiscais a montadoras de veículos, que em troca
teriam pago propina para que o texto fosse publicado.
''Fui falar com o
ex-presidente Lula porque queria ver com ele se autorizava a fazer isso [obter
recursos para seu filho]. Foi ai que o ex-presidente falou não precisar atender
ao Luiz Cláudio porque 'eu já resolvi esse problema com o Mauro Marcondes''',
disse Palocci.
Benefícios fiscais
Em 2013, os benefícios fiscais foram renovados pela então
presidente Dilma Rousseff por nova MP. Segundo Palocci, o ex-presidente Lula
confirmou a ele ter negociação com as montadoras para que ambas as MPs, de 2009
e 2013, fossem aprovadas. As tratativas teriam sido realizadas com a
intermediação de Marcondes, que, segundo o ex-ministro da Fazenda, teria acesso ''irrestrito'' a Lula.
Palocci disse, no entanto, não ter como comprovar o repasse
de recursos das montadoras a Luiz Cláudio, que não é réu na ação penal que
trata da tramitação da MP 471/2009. O ex-ministro disse também não ter
conhecimento direto sobre a atuação de Marcondes na elaboração da medida
provisória. E que ficou sabendo do envolvimento do lobista somente por meio de
Lula.
Por meio de videoconferência a partir de São Paulo, o
ex-ministro da Fazenda prestou depoimento como testemunha de acusação ao juiz
substituto Ricardo Soares Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília, em uma das
quatro ações penais a que Lula responde na Justiça Federal do Distrito Federal.
Além do ex-presidente, são réus no processo Mauro Marcondes, o ex-chefe de
gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, e mais quatro pessoas.
Logo no início da audiência, o advogado Cristiano Zanin
Martins, que representa Lula, tentou suspender o depoimento de Palocci,
alegando que ele firmou acordo de delação premiada relativo a outras ações e à
qual a defesa não teve acesso, sendo portanto uma testemunha interessada em
incriminar Lula em troca de benefícios legais concedidos pelo Ministério
Público.
O pedido de Zanin foi reforçado por todas as demais defesas
dos acusados, mas o juiz Soares Leite não o concedeu. O procurador da República
responsável pelo caso, Fernando Paiva, argumentou que a Operação Zelotes não
tem envolvimento com a delação de Palocci, que foi firmada em negociação com a
Polícia Federal do Paraná, no âmbito da Lava Jato.
Palocci foi ministro da Fazenda entre janeiro de 2003 e
março de 2006, no governo Lula, e da Casa Civil entre janeiro e julho de 2011,
no governo Dilma.